sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Propaganda... (Liniers)


Eu Etiqueta - Drummond

EU ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade

A boneca de William

Decidi voltar a alimentar o blog, com as coisas bacanas que tenho visto por aí, e a primeira delas vai ser um post lindo que li esses dias enquanto navegava pela internet. Cheguei a este blog (My Small Potatoes) por acaso e fiquei maravilhada com as imagens daqueles meninos brincando de boneca! *---* Isso mesmo, boneca! Quem me conhece sabe que sou super a favor dessa prática, afinal de contas pq só as meninas "podem", ou melhor, são incentivadas a brincar de bonecas? Pq tantas pessoas proíbem os meninos de fazê-lo, já que eles, assim como as meninas, poderão vir a ter seus próprios filhinhos um dia?! Enfim, essa discussão não vem ao caso agora, pois não é este o propósito do post... O intuito dessa postagem é apresentar-lhes essas já citadas fotos, então vamos lá! =) A postagem original foi escrita por Arlee, que há 18 anos recebeu a indicação de um livro por uma amiga: o "William’s Doll", de Charlotte Zolotow.
O livro fora escrito em 1972, e conta a história de um jovem rapaz que queria ter uma boneca para brincar e cuidar. Com a proximidade do dia dos pais, resolveu ler a história para seus três filhos, e aproveitou para levar para eles três bonecas, e objetos que eles usariam para cuidar de suas "crianças". Lida a história, ouve uma conversa sobre como cuidar de um bebê e sobre as qualidades de um bom pai. E seus meninos puderam trocar fraldas, alimentar, dar banho, amor e carinho aos seus bebês. Lindo e inspirador! Apreciem!
Observação: Vale muito a pena entrar no site para ler o depoimento do autor do post original e ver todas as fotos, pois aqui fiz um breve relato a partir do que li. Abs, Danny Lee.